Já na década de 1960, Zuzu Angel tinha consciência de sua importância para a moda do país. “Eu sou a moda brasileira”, dizia ela. Considerada a gênese de uma moda autenticamente nacional, a costureira subverteu, transgrediu e aos poucos impôs o seu estilo. Reconhecendo o valor de uma das mulheres mais notáveis de nossa história, o programa Ocupação a homenageia em sua 17ª edição. A exposição abre ao público no dia 1º de abril e poderá ser visitada até 11 de maio. Performances, mostras de cinema e encontros com estilistas trazem à tona a multiplicidade de sua obra e a legitimidade de sua luta contra a repressão da ditadura brasileira, que em 1971 prendeu e matou seu filho de 26 anos, Stuart Angel.
Com curadoria de Hildegard Angel – filha mais nova da estilista –, do Itaú Cultural e de Valdy Lopes Jn, que também assina a cenografia da exposição, a Ocupação Zuzu é o primeiro evento do instituto a tratar da moda como expressão artística e de reflexão cultural. Serão ao todo quatro andares do instituto dedicados a documentos, cartas, vestidos e referências que constroem o universo da fashion designer. A mostra ocupa diferentes espaços e propõe uma exposição em movimento, com performances dirigidas pela estilista Karlla Girotto. Réplicas dos vestidos criados por Zuzu desfilam em atrizes, que também dão voz às cartas que ela enviava a amigos e autoridades na busca por Stuart.
Zuleika de Souza Netto nasce em Curvelo, em 1921. Foi criada em Belo Horizonte, onde conhece o norte-americano Norman Angel Jones, com quem se casa. Depois de viver um tempo na Bahia, local de nascimento de Stuart, a família se estabelece no Rio de Janeiro, onde nasceram Ana Cristina e Hildegard. Na cidade Zuzu abre um ateliê em sua própria casa – quando transforma seu quarto em oficina de costura. Nasce a “Zuzu Saias”. Mesclando referências locais e cosmopolitas, seu espírito de vanguarda se fortalece com a criação de estampas próprias que valorizam a identidade brasileira. Pássaros, borboletas, flores e frutos. A brasilidade também aparece nos materiais: rendas, bordados, pedrarias, contas de madeira, bambus e conchas.
No auge do sucesso de Zuzu e de sua projeção internacional, seu filho é preso. Em 1971, a estilista realiza, em Nova York, um desfile de protesto e a partir de então o luto passa a ser seu hábito. Roupa preta, véu, crucifixos, o cinto, o anjo. “Esse desfile foi uma ação entre muitas outras. Ela não fez esse desfile e parou. Até a sua morte ela nunca parou. Atuou o tempo todo. Militou o tempo todo”, conta Hildegard Angel, que criou e dirige o Instituto Zuzu Angel, o IZA. Por onde fosse, sempre em busca de informações sobre Stuart, também distribuía o santinho que mandou imprimir com a foto do filho, inquiria políticos, militares, artistas, jornalistas, quem pudesse ajudá-la.
Performance no espaço expositivo
A partir do dia 3 de abril, os visitantes da Ocupação Zuzu podem conferir performances no espaço expositivo. Sempre de quinta a domingo, das 14h às 20h, atrizes vestindo réplicas de criações de Zuzu Angel leem trechos de textos e cartas escritas pela estilista e enviadas a amigos, outras mães de desaparecidos, autoridades, como Henry Kissinger, militares brasileiros, como o então presidente Ernesto Geisel, e artistas, como Chico Buarque. A direção artística é de Karlla Girotto.
Karlla Girotto é fashion artist e estilista de formação, consultora de moda e mestranda do Núcleo de Estudos da Subjetividade, na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Assina editorias para revistas de moda do país e estuda as relações entre moda, design, comportamento, artes plásticas e performance.
Ocupação Zuzuterça 1 de abril a domingo 11 de maioterça a sexta das 9h às 20h (permanência até as 20h30); sábado, domingo e feriado das 11h às 20h[no dia 1º de abril a mostra pode ser visitada das 9h às 17h]
Pisos 1, térreo, -1 e -2
Pisos 1, térreo, -1 e -2
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